
"Irmão, o que está fazendo?". Enquanto abaixava a foto lentamente, eu dei uma rápida olhada para ela e para a pessoa atrás de mim, não havia enganos, era a minha irmã. Sim, ela estava logo atrás de mim com os braços entrelaçados e com a cabeça posta de lado, me observando, preocupada. "Aconteceu algo?", ela perguntou com preocupação.
Eu imediatamente mostrei a foto a ela e disse: "Nada, só lembrando de velhos tempos e me questionando se sempre será assim." Eram palavras fortes, mas eu sabia que ela era forte também. Toda criança em seu interior é forte. Ela sorriu para mim. "Que besteira, vamos sempre brincar até quando formos adultos. Podemos até brincar no trabalho!", ela dizia com uma alegria que me fazia sorrir também. Eu comecei a me perguntar se estava louco. Existia uma clara linha entre a razão e a irracionalidade, mas parece que eu havia cruzado as duas e criado uma em que o sentido é perdido. O fato de minha irmã ter morrido, será que foi um sonho? Talvez eu tivesse sonhado e meu sub-consciente achou que fosse uma memória. Não é impossível, existem sonhos que são muito reais mas que as pessoas não se lembram.
Talvez tenha sido isto. Não, com o que ela disse logo em seguida, com certeza foi. "Quer me ajudar a levar as coisas pro papai?". "Pai?" Eu me espantei quando ouvi uma voz grossa vindo do final do corredor. "Filha, já pegou a gravata do pai?!". Era a voz de meu pai, eu a reconheceria em qualquer lugar. Minha irmã me entregava uma gravata, dizendo: "Toma, eu vou dizer que você me ajudou.
Assim o papai não vai ficar bravo porque não vai descobrir que você só acordou agora!" Ela me entregou a gravata e foi correndo até o quarto de meu pai, eu fui logo atrás. Eu entreguei junto com ela os pertences de meu pai. "Ah, veja quem finalmente levantou cedo. Isto é um milagre.", disse meu pai enquanto ajeitava a gravata, olhando-se no espelho. "Sim, o Matheus me ajudou muito!". "É verdade? Que bom filhinha.
E também parabéns ao moço que a cada dia se torna um homem tão responsável quanto seu pai.", ele dizia enquanto tava os toques finais no cabelo e ajeitava ainda mais a gravata em seu terno. "Estou feliz em poder ajudar...", eu respondia, ainda um pouco hesitante perante à situação. "Engraçado, porque eu acabei de ver que você estava dormindo e sua irmã estava me ajudando sozinha", ele riu ironicamente, mostrando que já sabia de tudo. "Você deveria agradecê-la por isso." Eu, obviamente descoberto, só pude fazer o que me cabia a fazer: Agradecer a ela, porém foi aí que congelei. Eu agachei e me preparei para dar um agradecimento e um abraço de irmão, porém... "Obrigado...é, obrigado...".
Eu esqueci. Eu esqueci.... Eu esqueci o nome de minha própria irmã. Isto não é possível. Eu tento me lembrar com todas as minhas forças, mas não consigo. Eu só posso olhar para o rosto triste dela, como se tivesse percebido, e crio coragem para terminar aquilo logo ali. "Obrigado minha querida irmã", eu dizia enquanto abraçava ela. Uma sensação de desconforto logo veio a mim: "O que está acontecendo?", eu me perguntava mentalmente. E foi assim até o momento em que saímos, eu, minha mãe, meu pai e minha irmã de casa. Agora também percebo, ao abrir a porta, que também não sei o nome de meus pais, meus amigos, eu esqueci tudo...Eu abria a porta para o mundo exterior...
Continua...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.