5 de jun. de 2014

A Invocação



Ana foi idiota. Errou ao aceitar sair com Marcela. Afinal Marcela é doida, maluca, uma doida varrida. E quem sabe se eu não tivesse lido Lovecraft ontem, ou se Marcela não fosse maluca, nada disso teria acontecido, elas não teriam entrado nessa roubada. Nascido. Mas não há como fugir de certas coisas, não mesmo.

Ela disse “Eu estou com tanto medo”, ela berrava isso, com aquela voz irritante, que parecia pertencer a uma menininha medrosa de apenas seis anos. Mas ninguém lhe ouvia, pois estava sozinha no quarto, sozinha no prédio, no mundo. Então eu coloquei um papel em sua frente e com a caneta que também foi presente de minha parte, Ana escreveu.


Ela não tinha talento, mas não tem problema, também não tenho. “Nobody’s Perfect” dizia uma moça na rádio que meu vizinho ouvia, e não é que aquela porcaria de canção estava certa.

Foi uma confissão confusa, a qual não vale a pena perder tempo (Só o final será aproveitado, só isso!), sua situação era ridícula, uma réplica medíocre de Dagon, lembra? Se não conhece vá atrás!

Não vou re-contar a carta dela, irei apenas guiar você nas memórias de Ana.



Fitava a chuva através da janela do carro. “Mau sinal… mau sinal”, pensou a moça de vinte e um anos. Era loira, nem feia nem bonita, era Ana.

O dia, sexta-feira. 12 ou 13., também não importa… Escolha você, se decida!

E então uma explosão de pensamentos! Tudo estava interligado. Seria possível? Sim, é possível.

Como pode tudo isso estar se relacionando. “Será que devo pedir para ela voltar? Ou simplesmente parar o carro?” Refletia Ana. Mas ela não abriu a boca, deixou que Marcela seguisse dirigindo.

“Eu posso voltar apé, eu posso. Mas me parece que agora estamos tão perto da casa de Dona Alice e tão longe de meu apartamento. E se eu pegasse um ônibus, essa é uma boa ideia! Meu Deus, nem adianta mais eu ficar nessa neura, pelo jeito já chegamos.” Sim já chegaram e você foi idiota, eu lhe disse: Idiota, vazia.

Marcela reduz a velocidade.

Que casa estranha… Nunca imaginei que a vista seria assim… Tão sinistra. Estou com medo aqui fora, não consigo imaginar como vou ficar quando entrarmos. Como eu queria estar em casa, por que diabos aceitei esse convite! Agora já é tarde (E a história está apenas começando).

Vou parar de interromper, deixar de ser chato. Mas antes disso vamos deixar tudo isso mais interessante. Se Ana não soube narrar sua aventura (Sim, eu sei que disse confissão), eu narrarei.

Entrarei em sua mente, que sempre me pertenceu, e apresentarei para você meu querido leitor um espetáculo. Serei Ana, serei câmeras espalhadas por todos os lugares!

Venha comigo, leia…



Marcela
Vamos lá Ana, não precisa ficar com medo.

Ana
Ah, eu não sei… Sabe que não gosto dessas coisas!

Marcela
Vamos, o Guto vai estar lá! É serio, a gente só quer saber se tudo isso funciona mesmo, vai ser uma experiencia divertida. Precisamos delas em nossas vidas.

Ana
Então, você acha que funciona?

Marcela
Não… Não é essa a questão. Só to curiosa, sabe que eu sempre curti essas coisas.

Ana
Eu sei, por isso acho que você é louca.

Marcela
A gente faz assim, vamos lá, vemos como tudo funciona e depois voltamos para cá, com certeza o Gustavo vai ir com algum amigo, a gente pode comprar pizza ou beber alguma coisa mais tarde, que acha?

Ana
Meu Deus, você quer tanto assim ir até aquela porcaria?

Marcela
Quero…
Por mim Aninha, vamos?





“Que casa nojenta, parece que faz anos que ninguém passa uma vassoura aqui. Olha, nunca havia visto tanto pó junto.

Marcela nem se importa, agora ela já se juntou com o Guto.

Pensar que ela acha que eu gosto dele. Nunca Gostei! Ele combina muito mais com a Marcela. Os dois e essas coisas de ocultismo, espíritos. As vezes penso, como foi que eu arranjei esse tipo de amigos, logo eu que nunca gostei disso, que sempre fui a maior medrosa.

A Dona Alice vem ao nosso encontro, e sabe, a mulher nem é tão assustadora quanto eu imaginei. Ela parece ter por volta dos 50 anos. Usa um lenço na cabeça, tem longos cabelos brancos. Está mais para cigana do que bruxa.

Eu vejo que Marcela e Guto vão para cima dela e começam uma daquelas conversas que eu não entendo nada. Do pouco que eu escuto da boca de meus amigos só consigo entender o seguinte:

“…tudo de se trata de uma chamada… um invocamento…. nós queremos entrar em contato…”

Só de ouvir isso quase fugi.

Notei que o amigo de Guto também estava assustado, olhei para ele e tentei sorri. Se ele estava com medo poderia ser meu amigo. Essa era minha teoria da amizade no momento.

Depois notei que a velha negava com a cabeça, dizia que aquele não era o combinado e que tudo provavelmente não funcionaria. Foi ai que Guto tirou um livro da bolsa, mostrou a velha e perguntou se ela conseguia ler.

A mulher ficou pasma, parecia que aquele livro realmente era importante.”







Alice
Não é possível! Onde você arranjou isso rapaz?

Augusto
Não importa, e além do mais é uma cópia, assim como muitas outras que circulam secretamente nos dias de hoje.

Alice
Eu sei que se trata de uma cópia, mas mesmo assim, tem noção do poder que esse livro tem?

Augusto
Acho que tenho… Sabe, eu estudei essa mitologia, durante muito tempo, usando fontes alternativas. Outros livros e a internet.

Fiz isso junto com Marcela. Mas a decepção caiu sobre nós quando peguei esse livro. É nosso maior achado, mas não conseguimos ler as palavras ditas aqui. Descobri que hoje em dia, são poucos os magos que sobraram. E foi assim, depois de uma longa busca que chegamos a você. Não acha que é coincidência você morar aqui, na mesma cidade que nós?

Alice
Vocês disseram que queriam apenas ver a sorte, era esse o combinado.

Marcela
Senhora, nos escute! Eu sei que mentimos, mas você pode sair ganhando se nos ajudar.

Augusto
Exatamente! Eu posso deixar essa cópia com você Alice, será apenas sua. Mas para isso você terá que nos ajudar! Nos queremos apenas dar uma espiada, conversar com uma dessas entidades, queremos uma brecha do conhecimento supremo, uma pequenina parte dele.

Alice
Vocês não tem noção do que estão me pedindo? Essas entidades são muito poderosas! A tantas outras coisas que poderíamos fazer com o livro! Realizarmos nossos desejos materiais, viver vidas de rei!
Por que vocês querem o proibido? Por que mexer com eles?

Marcela
A proposta está feita. Nos mostre o caminho, leia as palavras e o livro será seu e você poderá fazer o que quiser com ele…

Alice
(Hesitação)
Sentem-se, iremos realizar o ritual aqui nesta mesa.

“Perguntei o nome do amigo do Guto, ele me disse que era Diego. Também perguntei também se ele estava com medo, a resposta foi como esperado. Sim! Como eu, o cara nem queria estar ali, ainda mais depois de ouvir aquela história de invocação.

Ele disse que ficaria até o final, e que se eu quisesse podíamos sentar juntos. Aceitei, duas pessoas com medo juntas sentem-se mais protegidas.

Nos sentamos, a velha saiu e quando voltou começou a preparar a mesa. Tirou a toalha, acendeu pelo menos umas 10 velas, que para mim pareciam estar em lugares aleatórios. Depois com uma especie de giz, a mulher fez alguns desenhos na antiga e corroída madeira da mesa.

Demorou uns cinco minutos, então ela disse que estava tudo pronto.

Alice sentou e postou o estranho livro em sua frente, procurou durante um tempo algo pelas páginas. Folheou e folheou e então parou.

Estendeu uma de suas mãos para Marcela e a outra para Augusto, os dois estavam ao lado da mulher.

Marcela pegou em minha mão e eu na mão de Diego.

Foi ai que ouvi a mulher dizer:

“Vamos começar. O circulo á está completo.”





Alice
Prestem atenção, eu irei iniciar com algumas palavras e quero que vocês repitam exatamente do modo que eu falar. Concentrem-se.

Augusto
Vamos lá pessoal, concentração!

Alice
Em sua morada de R’lyeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando…

Todos
Em sua morada de R’lyeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando…

Alice
Mas retornará e seu Reinado se estenderá por toda a Terra…

Todos
Mas retornará e seu Reinado se estenderá por toda a Terra…

Alice
Agora nós suplicamos, nós de o direito de ouvir, nos mostre seu signo pelo qual desvelaremos os segredos das profundezas.

Todos
Agora nós suplicamos, nós de o direito de ouvir, nos mostre seu signo pelo qual desvelaremos os segredos das profundezas…



“As velas se apagaram! Agarrei forte na mão de Diogo. Agora a casa inteira estava na escuridão. Eu olhei para Alice, mas não consegui vê-la, na verdade não vi ninguém. Então o silêncio foi quebrado e Alice começou o encantamento.

Senti um vento frio e depois as velas se acendem novamente. Todas ao mesmo tempo.

“Vós que jazeis, morto mas sonhando
Escutai o chamado de vosso servidor,
Escutai-me, ó Poderoso Cthulhu!
Escutai-me, Senhor dos Sonhos!
Os Espíritos das Profundezas conhecem vosso Nome secreto
Dai-me vosso signo, a fim que eu conheça
Vossa vontade sobre a Terra
Assim que morrer a Morte, vosso tempo advirá
Dai-me o poder de acalmar as vagas
Para que ouça Vosso Chamado.
Dai-me o direito de compartilhar contigo… A luz!””


Tudo tremeu. Vi Augusto rindo, ele olhava para Marcela e disse que tudo estava dando certo. Mas então Alice gritou.

Gritou e começou a babar. Seus olhos estavam negros.

Olhei para Diego, pálido, sem acreditar no que via.

Não aguentei. Soltei das mãos de meus amigos e me afastei da mesa.”







Alice
NÃO QUEBRE O CIRCULO!

Augusto
Volte aqui Ana! Você vai estragar tudo!

Ana
Não, eu não quero participar dessas coisas!

Marcela
Ana, volta, sem você não vai dar certo!

Alice
Eu não aguento, nós perdemos força! Ai de nós agora, o portão já foi aberto…


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