29 de mar. de 2015

Os Portadores #25 : O Portador da Criação


Em qualquer cidade, em qualquer país, vá a algum hospital e peça para visitar aquele que se refere a si mesmo como “o portador da criação”. A recepcionista vai olhar nos seus olhos, horrorizada, antes de se levantar. Ela (e apenas uma “ela”) vai te levar para a maternidade e te empurrar para uma porta trancada na qual você entrará.

Uma vez dentro da porta, você vai notar outras duas: uma para a esquerda e outra para a direita. Você deve escolher o caminho com o qual você está mais acostumado, acreditando fortemente que a sua fé guiou você corretamente pela sua mão. Toque a maçaneta da porta. Se uma luz sair de debaixo do vão da porta, você deve entrar. Se não, você deve correr para o outro quarto tão rápido quanto puder. Durma onde cair e não confie em ninguém. Não fique sob a luz do sol; fique nas sombras e reze para qualquer deus que você deseja passar despercebido.

Se a luz for emitida, ou se por algum milagre você escapar da captura e querer voltar para escolher mais uma vez, entre com cautela. O quarto vai parecer se esticar para a eternidade; não tente compreender o seu tamanho ou forma, vários homens tentaram e acabaram enlouquecendo com tal pensamento. Espalhados por toda a sala estarão os corpos dos natimortos e os fetos do nascituro. Alguns capazes de produzir sons que irão furar o tecido de sua consciência com gritos, que parecem ser audíveis, mas ao mesmo tempo somente uma invenção da sua imaginação.

Ao longe vai haver uma mãe, um pouco mais parecida com uma criança sozinha, segurando um bebê enrolado em um cobertor esfarrapado. Um exame mais detalhado da lactente vai deixar você pensando sobre sua verdadeira idade. Sua expressão parece desgastada e aflita, uma eternidade, seu olhar te assegura que aqueles olhos já viram mais do que a maioria nunca vai ver.

Aproxime-se da mãe, calmamente. Se você assustá-la e interromper a amamentação, sua única esperança é sussurrar: “Eu gostaria de não perturbá-la, nem ao seu lindo filho.” Se você tiver acalmado ela, posicione-se de modo a olhar diretamente nos olhos da criança. Uma vez lá, você não deve quebrar o contato visual por medo de prejudicar o bebê e provocar sua própria destruição. Você deve pergunta-lhe somente uma pergunta, nada mais, pergunte: “Por qual motivo oque temos foi criado?”
O bebê vai se mover e tirar o pano esfarrapado que está ao seu redor, logo depois irá rasgar você, membro por membro, mas você não deve reagir à dor ou ao risco de nunca retornar à sua forma original. Se você superar a agonia, ele vai olhar em seus olhos, e você verá o início do cosmos. Todas as coisas que aconteceram desde a criação vão se desenrolar diante de seus olhos. A verdade da origem dos “Candidatos” será trazida à vida, e se você não enlouquecer com a verdade, você vai sentir o calor de todo este conhecimento brilhando dentro de você. Este calor vai crescer até que a dor das queimaduras supere em mil vezes a dor da sua carne rasgada. Você vai sentir seu corpo derreter, queimando até virar cinza.

No auge da sua angústia, se você conseguiu manter-se impassível é claro, você vai piscar as pálpebras que você já não tem, abrindo-as para descobrir que você retornou para o lado de fora, exatamente um dia antes do incidente. Em suas mãos, você vai encontrar um manuscrito esfarrapado, cujo texto nele parece preceder a existência.

Este é o objeto 25 de 538. Este livro anseia por trazer de volta os outros objetos para ele, e dentro dele está o conhecimento secreto de como fazê-lo.

Créditos de tradução: Nathaly Lopes

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